Roubo de carga no Brasil por Diógenes Lucca

Segurança Patrimonial
16/11/2016

Dados apontam que esse tipo de crime vem crescendo ano após ano e, de acordo com informações obtidas por meio da Associação Nacional do Transporte de Carga e Logística (NTC) no período de 2010 a 2015 o roubo de carga aumentou 48% com prejuízo na ordem de 5 bilhões de reais.

É fato que a Região Sudeste, em particular os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro representam mais de 80% dessa totalidade, no entanto, as outras regiões do país também apresentam seus indicadores em evolução.

Os principais alvos dos criminosos têm sido os produtos alimentícios, cigarros e eletroeletrônicos que possuem bastante liquidez e alto valor agregado, mas a já citada elevação dos índices criminais está atraindo os criminosos para outros produtos e nesse sentido são alarmantes os registros de roubos de produtos farmacêuticos e produtos químicos, beneficiando um ciclo criminoso que traz lucro a atravessadores e empresários inescrupulosos, fomenta a corrupção por parte de funcionários públicos e muitas vezes é atividade subsidiária dos traficantes de droga.

A dinâmica dos ataques, em geral compreende a obtenção de informações privilegiadas por parte dos criminosos, que escolhem o alvo de forma seletiva, preparam a interceptação do veículo carregado muita vezes ainda na área urbana, mas predominantemente nas estradas, rendem o motorista, transferem a carga para outros veículos e no momento oportuno, com o crime já exaurido, repassam a atravessadores que por sua vez possuem contatos com comerciantes e empresários dispostos a adquirir o produto subtraído, obtendo lucros ilícitos o que fecha o ciclo criminoso.

Medidas têm sido adotadas na tentativa de diminuir a incidência criminosa. A mais comum tem sido a contratação de escoltas armadas e rastreamento da carga, mas isso não tem sido suficiente.

O Estado de São Paulo por meio da Lei 15.315/14 criou uma dificuldade a mais para tentar combater esse tipo de crime, pois a lei pune com a cassação da licença de inscrição no ICMS (Imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços) a quem adquire produto de origem ilícita.

O mercado tem apostado em uma nova modalidade de transporte denominada “carga segura” que nada mais é do que replicar o que já se faz com o transporte de dinheiro nos carros forte.

A carga segura é feita por meio de caminhões que possuem uma cabine com blindagem em nível 5 com 4 vigilantes armados e compartimento de carga que pode transportar de 500 quilos a 15 toneladas de produtos e isso tem criado uma dificuldade significativa para a ação dos criminosos, além de outras vantagens em termos de seguro e aproveitamento da infraestrutura e know-how que as empresas de transporte de valores já possuem.

Não obstante a tudo isso o cenário exige outras medidas complementares por parte do poder público no que diz respeito à investigação, identificação e prisão desses criminosos.

Só um trabalho conjunto, integrado e multidisciplinar é capaz de fazer frente a essa incidência criminal.

Diogenes Lucca
Diógenes Lucca
Foi um dos fundadores do GATE (Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia Militar, onde ficou conhecido como Capitão Lucca. É comentarista de segurança na Rede Globo, Lucca é bacharel em Direito, com pós-graduação em Política e Estratégia pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-graduação em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Estudos Superiores da Polícia Militar do Estado de São Paulo.